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Amor e ranço: por que Alice DJ ainda divide opiniões

Como um projeto de estúdio levou o trance às massas e virou símbolo da música eletrônica dos anos 2000

por Fabrício Lopes - 21/09/2025




Quem é DJ ou fã de música eletrônica já percebeu: no fim dos anos 90, muita produção de eurodance trabalhava com essa fórmula — produtores em estúdio criavam a música, e uma modelo ou cantora virava o rosto do projeto. Foi assim com o Technotronic (Pump Up the Jam), com o Corona (The Rhythm of the Night), com o Black Box (Ride on Time), entre outros. Era uma época em que a imagem era tão importante quanto o som.

É nesse cenário que surge, em 1998, o projeto Alice Deejay, criado na Holanda por Pronti & Kalmani junto de Danski & Delmundo (os mesmos do Vengaboys). A cara e a *voz ficou por conta da Judith Pronk, que logo virou ícone com seus visuais marcantes e presença nos clipes. Muita gente achava que ela era a “Alice”, mas o nome era da banda, não da cantora.

O primeiro single, “Better Off Alone”, foi o divisor de águas. Ele marcou a transição entre o eurodance que estava no fim e o trance melódico que começava a ganhar espaço no mainstream. A faixa foi lançada primeiro como instrumental e só depois ganhou os vocais de Judith, mas a combinação foi explosiva: batida hipnótica, melodia simples e refrão que qualquer pessoa podia cantar junto. Isso transformou a música em clássico instantâneo.

Vieram outros singles de sucesso como Back in My Life, Will I Ever e The Lonely One, além do álbum Who Needs Guitars Anyway? (2000), que vendeu milhões. Mas o estilo perdeu força no início dos anos 2000 e, em 2002, o projeto encerrou atividades. Judith voltou para o mundo da moda, e os produtores engavetaram o nome.

Mesmo com a pausa, o legado não sumiu. Pelo contrário: Better Off Alone se tornou uma das músicas mais sampleadas e regravadas da história da dance music. DJs e produtores como David Guetta, Steve Aoki, Wiz Khalifa, Sam Feldt, Hardwell, Don Diablo (só pra citar alguns) já trouxeram a faixa de volta em diferentes roupagens.

E por que isso acontece até hoje?

Estrutura perfeita para DJ sets

   A música tem intro e break fáceis de mixar, refrão curto e melodia direta. É daquelas que qualquer crowd reconhece em segundos. Pra um festival, é ouro: você pode encaixar num set de tech house, progressive, hardstyle ou EDM e o público vai responder na hora.

 Fator emoção

   A letra é simples, quase uma pergunta aberta: “Do you think you’re better off alone?”. Esse vazio dá espaço pra cada pessoa colocar a própria história ali — quem dança, canta como desabafo ou como celebração. É universal, funciona em qualquer idade, cultura ou língua.

Símbolo de época

   Ela carrega a memória de quem viveu os anos 2000 nas pistas e, ao mesmo tempo, soa “nova” pra quem nasceu depois. Esse choque de gerações faz com que ela sempre seja vista como um hino atemporal, perfeito para momentos de catarse em festivais.

Matéria-prima infinita

   O lead principal, simples e marcante, virou praticamente um “sample grátis” da cultura eletrônica. É fácil de remixar, encaixar em mashups e reconstruir em cima de bases modernas. Por isso, toda geração de DJs tenta dar a sua versão do clássico.


Foi assim que o Alice Deejay virou um fenômeno que resiste ao tempo. A volta de Judith em 2018 só reforçou a força desse legado: em festivais nostálgicos como Don’t Let Daddy Know, ela mostrou que ainda é capaz de comandar multidões.

Muita gente ainda se pergunta por que tantos DJs, principalmente os mais ligados ao underground, não simpatizam com Alice DJ. O motivo é que naquela época a cena eletrônica estava bem dividida: de um lado o som mais experimental, profundo, e do outro a música pensada para rádio e pista comercial. Alice DJ caiu direto nesse segundo grupo, trazendo uma sonoridade pop que, para alguns, parecia “fast food musical”.

Com o sucesso de Better Off Alone, a faixa começou a tocar em todo lugar: rádio, TV, baladas. Naturalmente, isso acabou cansando e gerando um certo ranço em quem buscava novidade. Além disso, enquanto nomes como Tiësto ou Armin Van Buuren consolidavam suas carreiras como DJs e produtores, Alice DJ era visto mais como um projeto de estúdio, com produtores nos bastidores e uma vocalista na frente, o que muitos enxergavam como algo fabricado, sem a mesma autenticidade.

Outra crítica comum é que músicas como essa simplificavam demais o trance, transformando um estilo cheio de emoção e complexidade em algo pronto para o rádio. Mesmo assim, é impossível negar: Alice DJ abriu as portas para a música eletrônica chegar ao grande público. Dividiu opiniões, mas também inspirou uma geração e hoje se mantém como uma referência nostálgica que marcou época.

No fim das contas, Better Off Alone é um ritual coletivo de pista, desses que unem passado e presente. E enquanto houver DJs buscando aquele momento em que a pista inteira canta em coro, pode apostar: Alice Deejay nunca vai sair de cena.

*Em fóruns e comunidades de fãs (como Reddit), há quem questione se Judith gravou todos os vocais, ou se há vozes de estúdio adicionais, mas são especulações, teorias baseadas em timbre parecido, performance ao vivo vs gravação, etc. Nada oficialmente confirmado pelos produtores ou pela própria Judith.

Co-produção Cássio Souza.


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