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Jocelyn Brown - A voz que nunca foi paga
A verdadeira história por trás de "Somebody Else's Guy"
por Fabrício Lopes - 11/11/2025

Jocelyn Brown - A voz que nunca foi paga
por Fabrício Lopes - 11/11/2025

Em uma era em que as vozes femininas moldaram a história da dance music, Jocelyn Brown continua sendo uma das mais marcantes — e também uma das mais injustiçadas.
“Eu nunca recebi um centavo por isso”, contou certa vez sobre o seu maior clássico, Somebody Else’s Guy, lançado em 1984 e transformado em um hino atemporal da soul e da house music.
Raízes musicais e o poder da voz
Jocelyn nasceu em um lar onde a música era parte da rotina.
“Minha família era o coral”, relembra. “Com três anos eu já estava cantando. Todo mundo tinha um instrumento, e eu aprendi desde cedo o valor da harmonia.”
Criada no Brooklyn, longe dos luxos de Manhattan, ela construiu sua identidade musical com talento e determinação.
“Eu queria escrever minhas próprias canções, controlar o que fazia. Mas percebi logo que esse negócio não era brincadeira. Era fácil ser explorada.”
A dor que virou hino
O ponto de virada veio em um dia turbulento.
Naquela manhã, Jocelyn descobriu que o homem com quem se envolvia estava noivo de outra mulher. Horas depois, sua irmã apareceu chorando — o amante dela também era casado.
“Foi um dia devastador. Mas Deus me deu a chance de transformar tudo isso em música.”
Sentada ao piano, ela começou a escrever o que viria a ser Somebody Else’s Guy.
“What am I supposed to do, baby, when I'm so hooked up on you…”
“Eu apenas deixei sair. Era real. Era o que eu sentia.”
O nascimento de um clássico
A gravação aconteceu no Blank Studios, em Nova York, com orçamento mínimo e ajuda de amigos músicos.
“Todo mundo entrou no estúdio e disse: ‘Jocelyn, obrigado por deixar a gente participar disso’. Foi assim que Somebody Else’s Guy nasceu — entre amigos, com alma e suor.”
O single conquistou rapidamente as rádios urbanas e as pistas de dança. Tocou forte na WBLS e se espalhou por festas de soul, funk e house em todo o mundo.
Mas, enquanto o público celebrava, Jocelyn não via retorno financeiro.
“Eles diziam que eu tinha sido paga. Mas onde estava o contrato? Nada foi colocado por escrito.”
“Eles nos chamam de lendas… mas não nos pagam”
Décadas depois, Jocelyn fala com franqueza sobre a indústria que a celebrou, mas não a recompensou.
“Me chamam de lenda, falam de história. Mas não pagam o que devem. Você não pode pegar a voz de alguém, usar, remixar, relançar e não mostrar respeito.”
Para ela, o problema é maior que o dinheiro: é sobre reconhecimento.
“Eu pago com meu coração, minha mente, meu corpo e minha alma. O mínimo seria um ‘obrigado’. Mas a maioria nem isso faz.”
CeCe Peniston e a nova geração
Mesmo após décadas, o legado de Somebody Else’s Guy segue vivo. Quando a cantora CeCe Peniston, a voz de Finally, decidiu regravar o hit, Jocelyn ficou emocionada.
“Ela me mandou uma carta pedindo autorização. Eu disse: sim, claro. Cante do seu jeito. Se você sente que pode fazer, faça.”
O público que paga com amor
Nos shows, há um momento que se repete sempre: o refrão sendo cantado pelo público.
“Eles cantam tão alto que eu nem consigo continuar. Fico ali, parada, com o microfone na mão. É lindo. Isso é o que me paga — o amor das pessoas.”
Jocelyn encerra com fé e gratidão:
“Minha irmã já se foi, mas está no céu acompanhando tudo. Eu continuo aqui, e agradeço a Deus por cada pessoa que ainda canta essa música. Que Somebody Else’s Guy continue vivo — pra sempre.”
O título “Somebody Else’s Guy” virou expressão popular, símbolo de relacionamentos conturbados e amores não correspondidos. Um verdadeiro hino de vulnerabilidade e força.
*Texto adaptado e traduzido do depoimento original de Jocelyn Brown para a Dj Mag
Somebody Else’s Guy é uma daquelas músicas que ensinam o que é alma, sentimento e verdade. Pra quem vive de pista, ela é quase um manual de como colocar emoção em cada batida.
Mas também é um lembrete importante: todo DJ precisa respeitar as vozes que vieram antes. Por trás de cada sample, de cada vocal marcante, existe um artista que deu tudo pra criar aquilo.
Quando a gente toca um som assim, a gente tá continuando uma história. E respeito é o mínimo que essa história merece.
Fabricio Lopes, Central DJ


