Depois de 25 anos, os Rolling Stones finalmente autorizaram o uso de um dos samples mais famosos – e proibidos – da história da música eletrônica. “Satisfaction Skank”, de Fatboy Slim, deixa de ser apenas um bootleg lendário para ganhar liberação oficial, unindo definitivamente o rock clássico à cultura clubber.

Criada no fim dos anos 90 por Norman Cook, a faixa nasceu quase por acaso. Cansado de tocar sempre a mesma versão de “The Rockafeller Skank”, ele decidiu incorporar o riff icônico de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones. O resultado virou rapidamente uma arma secreta de pista, usada em seus sets e guardada como um trunfo que ninguém mais tinha.

Mesmo sem lançamento oficial, a música se espalhou nos anos 2000 por redes de compartilhamento como Napster e Kazaa, transformando-se em uma das faixas mais bootlegadas do mundo. A circulação foi tão intensa que o próprio Fatboy Slim acabou comprando cópias piratas, algumas gravadas diretamente de seus sets na BBC Radio 1 e prensadas em vinil.

Ao longo de duas décadas, Cook tentou regularizar a situação. Chegou a receber elogios de Mick Jagger, que disse gostar da mistura, mas a resposta da administração dos Stones era sempre negativa. Houve até uma tentativa de acordo quando Fatboy Slim foi convidado para remixar “Sympathy For The Devil”, com a ideia de usar “Satisfaction Skank” como lado B, mas o plano não avançou. Depois de quatro pedidos recusados, o assunto foi deixado de lado.

A virada aconteceu de forma inesperada. A iniciativa partiu dos próprios Rolling Stones, que não apenas autorizaram o sample como também entregaram a Norman Cook as fitas master originais para a criação de uma versão definitiva, com qualidade superior. Segundo ele, o material chegou em um carro blindado, reforçando o peso histórico da decisão.

Essa mudança reflete uma postura mais aberta da banda em relação a releituras e recontextualizações de seu catálogo. Em 2019, os Stones já haviam devolvido os direitos de “Bittersweet Symphony” a Richard Ashcroft, encerrando uma das disputas mais emblemáticas da história do pop e sinalizando um novo olhar sobre samples e colaborações.

“Satisfaction Skank” sempre foi presença constante nos sets de Fatboy Slim ao longo de mais de 25 anos, embora o próprio DJ admita não se lembrar da primeira vez em que a tocou, reflexo do ritmo intenso e das festas daquela fase da carreira. Já “The Rockafeller Skank” estreou em 1998, em Brighton, causando impacto imediato e se tornando um hit global, descrito à época como a “Bohemian Rhapsody da dance music” pela complexidade de sua construção.

Hoje, aos 62 anos, Norman Cook vive um dos períodos mais ativos de sua trajetória. Em um único ano, realizou 115 shows, lançou seu primeiro livro, ampliou projetos sociais ligados à saúde mental, anunciou novas turnês internacionais e confirmou o retorno do Big Beach Boutique, em Brighton. Para ele, a ideia de aposentadoria simplesmente não existe.

A liberação de “Satisfaction Skank” simboliza mais do que um acerto jurídico tardio. É a confirmação de que a pista, muitas vezes, entende o valor de uma música antes da indústria. O que começou como um bootleg proibido agora entra oficialmente para a história, ocupando o lugar que sempre teve na cultura da música eletrônica.

Fonte: BBC News, reportagem de Mark Savage.